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     Área Temática 8 - TRABALHO

 

ORGANIZAÇÃO & PODER:

GÊNERO FEMININO NO RIO GRANDE DO SUL

Sonia Bressan Vieira*

 

Resumo: O presente trabalho resultou de uma pesquisa de Mestrado na Universidade do Vale do Rio dos Sinos /RS que objetivou identificar e analisar a história e ações das Organizações de Mulheres no Estado do Rio Grande do Sul no período de1910-2001, contribuindo assim, para uma “fotografia” atual do como as mulheres estão organizadas no Rio Grande do Sul, neste limiar de século XXI. Este texto enfoca o âmbito quantitativo da pesquisa, que é também de enfoque qualitativo, envolvendo a categoria analítica – Gênero –através do uso da metodologia da História oral com a utilização de entrevistas semi-estruturadas com as lideranças femininas / feministas do estado. Embasado nos conceitos de poder, história oral e gênero este artigo apresenta alguns dos resultados da pesquisa de campo demonstrando o nível de visibilidade da mulher gaúcha e a conquista de sua autonomia como sujeito histórico situado e organizado no tempo e no espaço gaúcho.

 

Palavras-chave: Gênero, Poder, História Oral.

 

1 Introdução

A trajetória inicial da organização das mulheres gaúchas tem suas origens no Movimento de Mulheres no Brasil e no restante do mundo. Mobilizadas, passaram a ser vistas como uma categoria social com visibilidade e possibilidades históricas, trazendo consigo a certeza de que a história teria que ser reescrita e refeita.

Neste texto que reconstrói nuances da trajetória da organização das mulheres gaúchas enfocando as Organizações que foram instituídas do início do século XX até 2001, extintas e, em atividade, tivemos que ampliar nossas buscas. As fontes que subsidiaram nossa pesquisa representam uma forma peculiar e diferenciada devido as suas características. Utilizamos, basicamente, fontes orais, e escritos, tais como folders, cartilhas, anotações de arquivos, notícias de jornais, estatutos, regimentos, cartazes, folhetos, fotos, atas, registros documentais, objetos, publicações várias, oriundas das Organizações que íamos tomando conhecimento além de depoimentos de algumas das mulheres precursoras, testemunhas vivas, atoras do movimento de mulheres no estado.

            A pesquisa desenvolveu-se alicerçada num referencial teórico a partir dos conceitos de, poder, história oral e gênero como categoria analítica resultante da construção social, envolvendo um pensamento plural sobre as representações sociais, num contexto de história do Tempo Presente .

Alicerçamos este trabalho considerando a visão foucaultiana de poder – explícita na idéia de que

    Se a mulher fala e é falada, é porque ela, como os ‘homens infames’, de algum modo se confronta com o poder. Não um poder que somente desmantela, vigia, surpreende, ou proíbe e cerceia; mas um poder que suscita, incita e produz, um poder que ‘não é apenas olho e ouvido’, sobretudo faz agir e falar (FOUCAULT, 1992).

Assim, para analisar as múltiplas Organizações, nos servimos das concepções de poder de Foucault que, em sua História da Sexualidade I, argumenta:

Não se deve descrever a sexualidade, como um ímpeto rebelde, estranha por natureza e indócil por necessidade a um poder que, por sua vez, esgota-se na tentativa de sujeitá-la e muitas vezes fracassa em dominá-la inteiramente. Ela aparece mais como um ponto de passagem particularmente denso pelas relações de poder; entre homens e mulheres, entre jovens e velhos, entre pais e filhos, entre educadores e alunos, entre padres e leigos, entre administração e população. Nas relações de poder, a sexualidade não é o elemento mais rígido, mas um dos dotados da maior instrumentalidade: utilizável no maior número de manobras, e podendo servir de ponto de apoio, de articulação às mais variadas estratégias(FOUCAULT, 1998)

O autor analisa o poder sobre a vida, que se desenvolve a partir de processos biológicos que tornam possível a existência de poderes reguladores. Assim, concebe o poder deslocando-o do verticalismo e autoritarismo de governantes, para o social. O poder, como decorrente de relações.

Outro conceito, que trabalhamos em consonância com o de poder, é o da categoria gênero, visto na perspectiva de uma construção social e histórica. Do termo mulheres como segmento do homem, passou-se à condição de gênero – espaço no qual tentamos situar o avanço da condição de mulher, num contexto de mundo, onde o gênero flui na historiografia como nova abordagem, objeto de construções teóricas passíveis de visibilidade histórica. O conceito de gênero traduz uma postura que vem se desenvolvendo nas últimas décadas por teóricos de várias áreas.

Scott, especialista do Movimento Operário do século XIX e da História do Feminismo na França, em texto que foi uma referência de estudo no Brasil, considera que,

na sua utilização recente mais simples, “gênero” é sinônimo de “mulheres”. Os livros e artigos de todos os tipos que tinham como assunto a história das Mulheres substituíram, nos últimos anos, nos seus títulos o termo “mulheres” por “gênero”. Em certos casos, mesmo se esta utilização se refere vagamente a certos conceitos, ela visa de fato fazer reconhecer este campo de pesquisa. Nestas circunstâncias, o uso do termo “gênero” visa indicar a erudição e a seriedade de um trabalho, pois “gênero” tem uma conotação mais objetiva e neutra do que “mulheres”. O “gênero” parece se integrar na terminologia científica das Ciências Sociais e, então, se dissociar da política (pretensamente ruidosa) do feminismo (SCOTT, 1990).

Com estas ponderações a autora elucida a conotação do termo “gênero” como não relacionada a um significado ou posicionamento sobre a questão da desigualdade, ou de poder, ao passo que, o uso do termo “História das Mulheres” expressa um posicionamento político dirigido às mulheres, como portadoras de uma história. Já o termo “gênero” dá visibilidade à mulher, sem ser uma “ameaça”. Além deste aspecto, que dá ao feminismo uma legitimidade institucional (especialmente nos anos 80), também faz referência a “gênero” como relações entre os sexos, rejeitando as explicações biológicas e indicando uma maneira de “construção social” sendo, portanto, um termo particularmente “útil”.

Por outro lado, a pesquisa utilizou-se, basicamente, da História oral como suporte metodológico e como forma e meio de uma aproximação maior com a realidade , pois, na visão de Alberti, a História Oral como “ciência e arte do indivíduo”, conforme a define Portelli (1981, p. 15-17), faz com que o historiador e a testemunha viva, sejam agentes ativos da história, exige do pesquisador o contato pessoal, um comportamento ético por excelência, o reconhecimento da subjetividade, procurando

representar a realidade, não tanto como um tabuleiro, em que todos os quadrados são iguais, mas como um mosaico ou colcha de retalhos, em que os pedaços são diferentes, porém, formam um todo, coerente depois de reunidos - a menos que as diferenças entre elas, sejam tão inconciliáveis, que talvez cheguem a rasgar todo o tecido.

 

Procuramos, portanto, tendo como suporte esta metodologia que, se bem desenvolvida, tem o rigor da cientificidade, identificar, caracterizar e analisar a estrutura das Organizações femininas/feministas no Rio Grande do Sul, permeada nos noventa e cinco depoimentos de suas dirigentes.

 

2 Desenvolvimento

Buscando uma análise breve e cronológica, pois não é o objetivo deste trabalho aprofundar o estudo da história do Movimento de Mulheres no Estado, salientamos que nossas expectativas foram superadas ao constatar que no Rio Grande do Sul, são muitas as Associações/Instituições/Organizações ligadas à defesa da mulher neste início de século. Iniciamos nossa pesquisa com a intenção de incluir menos de uma dezena de Organizações, as quais já tínhamos conhecimento da existência; porém, à medida que avançamos em nossos contatos, ao longo de 24 meses, surpreendentemente, nos deparamos com um número bem maior de Organizações ligadas à mulher, no Rio Grande do Sul, atingindo 78 Organizações em atividade, que atuam com a temática “mulher” de forma exclusiva ou, em sua maioria e doze (12) inativas. Das Organizações em atividade, foram localizadas setenta e seis (76) sendo que destas, setenta e cinco (75) foram identificadas e entrevistadas as mulheres dirigentes, visando alcançar o objetivo deste trabalho. Ressalta-se que do total de setenta e oito (78) Organizações ativas que tomamos conhecimento, duas (02) não foram contatadas por dificuldades de localização, de endereço e/ou telefone a Associação Riograndense de Taquígrafas e o Sindicato das Empregadas Domésticas. Das setenta e seis (76) Organizações ativas, localizadas e convidadas, apenas uma (01) não participou da pesquisa, a Associação de Mulheres Negras Gaúchas conforme demonstrativos a seguir:

Tabela 1 – Organizações Gaúchas de Mulheres, em atividade – Participação

Nº Total de Organizações de nosso conhecimento

Nº de Organizações participantes

Nº de Organizações convidadas e não participantes

Nº de Organizações de nosso conhecimento e não localizadas

78

75

01

02

Gráfico 1 – Organizações Gaúchas de Mulheres, em atividade – Participação

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Pesquisa As Organizações no Movimento de Mulheres no Rio Grande do Sul no limiar do século XXI, 2000/2001.

Localizamos, conforme já explicitamos, setenta e seis (76) Organizações, em atividade, no Estado, as quais passamos a identificar por década de surgimento, conforme sua criação. Para uma melhor visualização do surgimento das Organizações em estudo, optamos por representá-las também graficamente. O gráfico a seguir, demonstra a criação das mesmas, nas décadas de 40, 50, 60, 70, 80, 90 do século XX e 1 década do século XXI

Tabela 2 – Organizações Pesquisadas Ativas por Décadas

Décadas

Número de Organizações Ativas

1ª Década do Século XX

1

Década de 40

4

Década de 50

3

Década de 60

4

Década de 70

 5#

Década de 80

24

Década de 90

32

1ª Década do Séc. XXI

 2

Total de Organizações Pesquisadas

75

#Obs.: Os grupos inativos das décadas de 70 e 80 não estão computados nesta Tabela.

Gráfico 2 – Organizações Pesquisadas Ativas por Décadas

 

 

 

 

 

 

 

 

 Fonte: Pesquisa As Organizações no Movimento de Mulheres no Rio Grande do Sul no limiar do século XXI, 2000/2001.

O passado nos mostra uma longa história de criação das Organizações de mulheres no Estado. Como podemos visualizar, a década de 90 foi a que assistiu a um maior número de implantações de Organizações de Mulheres no Estado, e que permaneceram em atividade até o início deste século XXI. (seguida das décadas de 80, 70, 40 e 60, vindo após, a década de 50, 1ª década do século XXI e 1ª década do século XX). Interessante registrar que encontramos apenas doze (12) Organizações criadas na década de 70, justamente a década em que iniciou a Década da Mulher – anos de 1975-1985 – declarada pela ONU. Época, em que o movimento feminista, aflorou em todo o País e no Estado; destas doze (12) Organizações, sete (07) foram grupos “Feministas” que hoje não existem mais, pelo menos com a denominação inicial, restando cinco (05) destas Organizações, em atividade. Este fato gera o questionamento: que fato ocasionou que essas Organizações surgidas, justamente no contexto em que o feminismo explodiu, no Estado e no País, se dispersassem, não tendo continuidade, pelo menos com as denominações iniciais? Cabe ressaltarmos que o nascimento destas Organizações no Estado acompanha a reativação do Movimento Feminista, no Brasil e no mundo, constituindo-se as décadas de 90 e 80, numa verdadeira explosão de criação de entidades no Rio Grande do Sul, cenário que se constituiu numa extensão do nacional. O Rio Grande do Sul, portanto, não foge à regra da mobilização das mulheres no contexto geral, sendo este fato diretamente proporcional aos avanços obtidos.

 

3 Considerações finais

Ao finalizar esta breve análise da fase inicial do Movimento de Mulheres no Estado, consideramos que as vozes femininas ou feministas, não raras vezes foram alvo de críticas e de tentativas de desmoralização – consideradas por Blay (Folha de São Paulo, 01/03/1981) “como formas de autoritarismo exercidas pelos meios de comunicação”.

A realidade confirmou que grupos de mulheres surgiram no Rio Grande do Sul desde as primeiras décadas do século XX. Organizadas, se revestiram de características “femininas” e não propriamente “feministas”; porém, no final dos anos 60 – início da década de 70, emergiram grupos que se assumiram “Feministas”. Percebeu-se que alguns não se auto-proclamaram “Feministas”.

Constatamos que foi o Movimento Feminista nos anos 60, inicialmente nos Estados Unidos, que impulsionou os estudos sobre a mulher e o Movimento de Mulheres no Rio Grande do Sul – influenciado também, por mecanismos traduzidos nas conferências mundiais e encontros nacionais, internacionais.

Não se pode negar que a história do início das Organizações de Mulheres no Rio Grande do Sul, acompanhou o cenário político nacional da sociedade brasileira na luta pela democracia e da abertura política.

As reflexões até aqui apresentadas buscaram recuperar o alicerce do presente, os antecedentes e o como se formaram as Organizações de Mulheres no Estado – 1910-2001.

 

ABSTRACT: The present Word resulted from a mastership research at Vale do Rio dos Sinus-RS University that objective identify and analyze the history and actions of the women organizations in the state of Rio Grande do Soul in the period of 1910-2001 contributing so, to a real  “photography” like the women ore organize at Rio Grande do Soul, in this threshold of century XXI. This treat focalize the quantitative am lit of the research, that is also a qualitative focus evolving the analytic class – Genus – devout the use of the methodology of the oral history with the utilization of the half-structured intervenes with the feminine leads feminist of the state. Based en the conceptions of power, oral history and genus this article presents some of the results of the field-research showing the level of university of the gaucho woman and the conquest of yours autonomy as historical subject situated and organized in the gaucho time and space.

Key word: Genus, Power, and Oral History.

 

* Coordenadora do Curso de História e Docente nos Cursos de História e Pedagogia, na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – RS ; Mestre em História pela UNISINOS – RS .

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. 7.ed. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

______. A vida dos homens infames. In: O que é um autor? Lisboa: Veja/Passagens, 1992.

Periódicos/Artigos de jornal

BLAY, Eva. A política e a política do movimento feminista. Folha de São Paulo, São Paulo, 1981.

PORTELLI, Alessandro. Tentando aprender um pouquinho. Algumas reflexões sobre a ética na História oral. In. Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-graduados em História e do Departamento de História da PUC, São Paulo, Brasil, p.15-17, 1981.

SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, 16(2), jul./dez. p.7, 1990.

Vivências, Erexim. v.1, nº 1, p. 63-69. Outubro, 2005