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     Área Temática 8 - TRABALHO

 

ASSESSORIA DO SERVIÇO SOCIAL E

CAPACITAÇÃO Á PRÁTICA DO COOPERATIVISMO

Eloísa Duarte1

Luciane Warnava2

 RESUMO

Este artigo apresenta a ação do estágio em Serviço Social no Programa de Extensão Universitária Centro de Práticas Sociais realizado no projeto Assessoria aos Agricultores da Linha São Paulo em Frederico Westphalen – RS. Neste contexto, o Serviço Social assessorou a equipe da Emater Frederico Westphalen na discussão com os agricultores daquela comunidade acerca do tema associativismo e cooperativismo, seus reflexos e repercussão na própria comunidade.A metodologia do trabalho foi organizada a partir da técnica do Grupo Focal o qual permite que os participantes se concentrem no tema de seu interesse/problema ao mesmo tempo em que realizam o diagnóstico da situação existente na comunidade em que estão inseridos, possibilitando análise e tomada de decisão à solução daquilo que era, inicialmente, problema para os envolvidos. A equipe se reuniu e, ao estabelecer a técnica utilizada, organizou cronograma de atividades para quatro encontros na tentativa de assessorá-los na solução do problema que consistia em formalizar uma cooperativa para toda a comunidade, e não apenas para vinte pessoas como rege a atual legislação. O desafio não foi vencido na quantidade dos participantes, mas foi exitoso na qualidade imprimida na experiência aos envolvidos.

Palavras Chave: Serviço Social, Programa de Extensão, cooperativismo.

 

ABSTRACT

This article presents the action of the period of training in Social Service in the Program of University Extension Center of Practical Social carried through in the project Assessorship to the Agriculturists of the São Paulo Line in Frederico Westphalen - RS. In this context, the Social Service assisted the team of the Emater Frederico Westphalen in the quarrel with the agriculturists of that community concerning the subject associativismo and cooperativismo, its consequences and repercussion in proper comunidade.A methodology of the work was organized from the technique of the Focal Group which allows that the participants concentrate in the subject of its interesse/problema at the same time where they carry through the diagnosis of the existing situation in the community where they are inserted making possible analysis and taking of decision to the solution of that that she was, initially, problem for the involved ones. The team if congregated e, when establishing the technique, used, organized cronograma of activities for four meeting in the attempt to assist them in the solution of the problem that consisted of not only legalizing a cooperative for all the community and for twenty people as it conducts the current legislation. The challenge was not looser in the amount of the participants, but he was exitoso in the quality printed in the experience to the involved ones.

Words Key: Social service, Program of Extension, cooperativismo.

 

Área Temática: Trabalho

 

O Serviço Social é uma profissão de caráter eminentemente interventivo, atua, portanto nas mais diversas áreas do conhecimento, desencadeando ações efetivas voltadas para a transformação da realidade social. Pensar a profissão na sociedade atual nos faz refletir sobre a prática profissional, pois um dos maiores desafios do profissional é desenvolver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas criativas e ousadas, desencadeando novos conhecimentos. Conforme Iamamotto (1998: 20), é preciso[...] construir propostas de trabalho criativas capazes de preservar e efetivar direitos, a partir das demandas emergentes no cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e não somente executivo”.

O profissional, portanto, tem o desafio de ser propositivo, ao mesmo tempo em que pensa, analisa e pesquisa para, através do conhecimento adquirido, decifrar a realidade, identificando novas possibilidades de trabalho no acompanhamento das alterações impostas pela sociedade. Para Gentilli,

O Serviço Social é uma profissão reconhecida por toda a sociedade e seus serviços são sempre requeridos onde há necessidade de se mobilizar pessoas, grupos e segmentos sociais, numa ação social, tanto para organizações de ações interventivas, quanto para se procederem mudanças sociais e comportamentos cotidianal (Gentili, 1998, p. 43).

Nesta perspectiva, a construção do saber profissional tem como base a intervenção, a qual se realiza num movimento de crítica e de construção, que vai do particular para o geral, numa relação dialética e contínua da ação. Neste sentido, são vários os meios que o assistente social dispõe para a realização deste fazer profissional, entre eles destacam-se os programas de extensão universitária. A extensão universitária constitui dimensão e função imanente e integrante do ser e do fazer. Conforme dossiê da extensão da URI (2005),    

“A extensão tampouco tem um significado e/ou conotação assistencialista nem se confunde com mera prestação de serviços. As ações e atividades de “extensão” na URI, são uma via de mão dupla.  Não só para comunidade, mas “na”e “com”a comunidade. A extensão estimula ações de iniciativa e participação, de solidariedade e cooperação[...]( Dossiê da extensão, 2005).

 

Os programas de extensão universitária são de extrema importância, pois possibilitam a integração da Universidade com a Comunidade e a Comunidade com a Universidade, bem como desencadeia um processo de conhecimento ao acadêmico e a população envolvida. Nesta perspectiva a extensão no Serviço Social proporciona ao acadêmico o conhecimento das múltiplas expressões da questão social, como também é um espaço facilitador para a construção de estudo da realidade local e da sistemática da prática profissional. Segundo Martinelli , Rodrigues e Tannus,

 O Serviço Social é uma profissão que tem por atraente empreender uma prática – social, educativa, política – de enfrentamento da “questão social”, principalmente no que tange às interfaces pobreza/riqueza e às recorrências do progressivo empobrecimento da população. A atuação do Serviço Social não se limita à esfera macro-social (conjuntural, estrutural), mas é na esteira das relações também micro-sociais que concretiza ou cumpre sua “vocação” profissional. É uma profissão vigorosa, combatente que, no plano “macro”, constantemente se confronta com o binômio “solidariedade e barbárie social” e que se confronta também, no cotidiano, com as necessidades e carências fundamentais do homem, não só na esfera do econômico e técnico, como também na do afetivo (Martinelli, Rodrigues, Tannus (Org), 2001, p, 154).

No entanto, para identificar a questão social, base da intervenção do Serviço Social, torna-se necessário conhecer a realidade, onde as mesmas se manifestam. Os programas de extensão podem proporcionar conhecimentos ampliando as possibilidades de projetos de iniciação científica, bem como a oportunidade de relação da teoria com a prática. Concordamos com Faundez (1993), quando diz que “o conhecimento científico dará mais lógica, coerência e eficácia ao sentir do povo e seus conhecimentos empíricos”, uma vez que o nosso conhecimento científico deve igualmente se transformar num conhecimento capaz de apreender esta realidade na sua complexidade e, transformá-la eficazmente em linguagem compreensível e decodificável, especialmente, aos usuários.

Assim o Programa de Extensão do curso de Serviço Social Centro de Práticas Sociais, tem como objetivo estudar, pesquisar e conhecer a realidade social prestando serviços à comunidade através de planos, programas e projetos que propiciem a inclusão e a integração social dos indivíduos, promovendo e ampliando a cidadania e os direitos sociais. Para Faleiros,

O Assistente Social tornou-se um solucionador dos problemas que se apresentam diante dele. Os problemas eram identificados pela própria instituição, pelos próprios objetivos do contexto em que atuava o Assistente Social, obrigando-se este à manipulação de certos recursos, e a partir deles, pensar os problemas apresentados (FALEIROS, 1999, p. 17).

Esta realidade já está se configurando nesta região, pois em 2005 fomos convidadas para realizar Assessoria em Serviço Social ao Grupo de Agricultores da Linha São Paulo, interior de Frederico Westphalen, pelo Engenheiro Agrônomo Chefe da Emater Gaspar Antônio Scheid. A ação desejada era a construção coletiva de metodologia de trabalho em torno do projeto já existente naquela comunidade, despertando-lhes o sentimento de identidade e pertencimento com os objetivos do mesmo. Para Falcão (1999, p.35), “o assistente social é chamado igualmente a integrar equipes interdisciplinares para planejar, implantar, controlar e avaliar programas globais ou setoriais de desenvolvimento social, local, regional ou nacional [...]”, e, dessa forma, a equipe de trabalho foi composta pelo Engenheiro Agrônomo da Emater Gaspar Antônio Scheid, a Extensionista da Emater Vera Cancian, o Presidente do Sindicato dos trabalhadores Rurais Célio de Pellegrin, a Assistente Social- Supervisora de Campo Eloísa Duarte, estagiária de Serviço Social Luciane Warnava e as egressas do curso Renata Taglietti e Margaret Reis.  

O grupo foi composto por 20 Agricultores da Comunidade, selecionados pelo conselho Agropecuário, os quais foram beneficiados com recursos do RS Rural Especial e organizados pela associação de Agricultores da Comunidade. Para a execução desta ação de extensão, a técnica de trabalho utilizada pela equipe já citada foi o Grupo Focal. Glória Lucia Abduch Santos denomina o Grupo Focal como,

Uma reunião de trabalho, em que os participantes reúnem-se para concentrar sua atenção em um tema gerador ou desencadeante de um autodiagnóstico situacional de sua própria realidade, para extrair da analise as conclusões e decisões em torno da solução do problema focalizado (1997,P, 56).   

              Esta técnica permitiu que os componentes do grupo se conhecessem e identificassem seus problemas, desencadeando, assim, um processo de mobilização e conscientização do trabalho coletivo.

Neste contexto, a ação do Serviço Social teve como objetivo principal sensibilizá-los para o exercício do cooperativa, avaliando as vantagens e desvantagens da ação cooperativista. A discussão acerca do tema deveria provocar a mobilização do grupo para um objetivo comum, ou seja, colocar em funcionamento o silo de armazenagem de grãos que a comunidade havia ganho. Segundo Toro e Werneck, a mobilização “pressupõe uma convicção coletiva, um sentido público da relevância daquilo que convém a todos”, (apud Santos e Ota, 1997), mas para isso era imprescindível a participação de todos os componentes do grupo, pois, é preciso fazer parte das discussões. Para os mesmos autores, “mobilizar é convocar vontades para atuar na busca de um propósito comum, sobre uma interpretação e um sentido também compartilhados”. Portanto a partir da mobilização consciente, com objetivos claros e comuns a todos, é possível desencadear a participação.

Neste sentido, trabalhamos com o grupo a participação que para Bodernave (1995), significa “fazer parte, tomar parte e ter parte” uma vez que é dessa forma que se “expressam idéias de participação sendo que fazer parte expressa uma participação passiva, e tomar parte uma participação ativa”. Isso foi percebido nos componentes do grupo, pois, embora participassem havia um sentimento de preocupação em torno do quê fazer.

 Foi organizada uma dinâmica de sensibilização e de orientação ao que o grupo desejava e, surpreendentemente, houve um retorno rápido, mas não conforme a expectativa da equipe.

 Entretanto, o relato dos agricultores foi pontual: havia recursos do governo federal para a construção do local para armazenamento de grãos e o grupo interessado junto com a Emater e o Sindicato, encaminharam o projeto. O recurso veio e iniciaram as obras, mas gostariam que mais agricultores fossem despertados para o trabalho associativo, como também para o empreendimento cooperativo, beneficiando toda a comunidade e não apenas um grupo de vinte pessoas.

Desta forma, a equipe técnica da Emater solicitou que houvesse um acompanhamento com discussões do grupo e sensibilização para a compreensão do que é um empreendimento cooperativo, bem como desencadear a noção de planejamento de atividades dentro de um segmento solidário.

No entanto, conforme Faundes, (1993), foi preciso “aprender a participar, mas igualmente aprender a se organizar, a dialogar, e, em primeiro lugar, aprender a apreender (...)”, ou seja, apreender que numa cooperativa as ações e atitudes devem ser coletivas e baseadas na mutualidade, na solidariedade e na confiabilidade pensando e visando à repercussão coletiva.

Sendo o cooperativismo uma possibilidade de organização produtiva, fundamentado na visão doutrinária humanista, o qual busca a realização econômica junto com o social, a equipe entendeu que, para formar a cooperativa, o grupo deveria estar voltado para o desenvolvimento econômico e social do cooperado, com repercussão na sua comunidade, cabendo a cada integrante a responsabilidade pelas decisões. Segundo Lauschner,

[...] a cooperativa é a organização econômica e financeira sob administração coletiva que mantém nas mãos dos trabalhadores toda a gestão e risco, e destina ao fator trabalho e para a sociedade global todo o valor agregado, depois de pagar o juro (ou a taxa fixa de arrendamento do fator capital)(2003. P.24). 

Era necessário e importante garantir, neste grupo, a defesa da própria origem do cooperativismo: espírito humano de congregação, da vontade do homem em ser solidário e ao mesmo tempo pertencer a uma organização que sirva de intermediário entre o individuo e a sociedade fazendo o contra ponto ao sistema capitalista contemporâneo, que estimula o individualismo e a concorrência. Conforme Scheneider:

[...] o cooperativismo surge num contexto de afirmação extrema do predomínio do interesse privado sobre o coletivo e o comunitário, com todas as conseqüências em termos de poder e renda, como o próprio do capitalismo industrial nascente. Tentando superar a absolutização do interesse privado e suas conseqüências, a cooperação institucional e a sistemática então emergente se empenhará por resgatar e reforçar o interesse coletivo e comunitário (1919 p.35).

                Para a realização da técnica, a metodologia de trabalho foi desenvolvida através de encontros quinzenais, com a participação dos componentes, abordando o desejo e a necessidade do grupo formar uma cooperativa, discutindo a afinidade do grupo em relação a um empreendimento solidário, comum a todos.

A partir das propostas encaminhadas por eles, planejávamos o novo encontro com perguntas orientadoras para serem discutidas pelo grupo com toda a comunidade, sem a presença dos técnicos.

O grupo retornava e as discussões prosseguiram. Esta sistemática possibilitava que eles se mobilizassem e tomassem consciência do processo participativo, ao mesmo tempo em que elaboravam o projeto de formação da sua cooperativa.

É pertinente ressaltar que todo o trabalho com o grupo partiu do diálogo entre a equipe e os membros do grupo, havendo a aplicação da metodologia na própria equipe de trabalho, pois em  qualquer ação cooperativa  é essencial o dialogo entre os envolvidos. 

Consideramos, finalmente, que o que o papel desencadeado pelo Serviço Social na extensão, além de desenvolver a práxis profissional, é um aprendizado para as equipes, bem como para os que são sujeitos da ação, pois todo o trabalho envolve o compromisso no desenvolvimento da participação de todos.

 A comunidade dos Agricultores, através da nossa intervenção, percebeu que não há participação “forçada”. Entretanto na participação voluntária há qualidade, responsabilidade, participação e compromisso e estes serão os sujeitos de suas próprias histórias.

 

1 Mestre em ciências sociais Aplicadas. Assistente Social. Professora do Curso de Serviço Social da URI-Campus de Frederico Westphalen e  do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas. .Professora do Curso de Graduação em Serviço Social e Supervisora do Grupo de Estudo, Pesquisa e Ensino na Assessoria em Serviço Social-Gepeass.

2 Acadêmica do VII Semestre do Curso de Serviço Social da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões-URI-Campus de Frederico Westphalen. Estagiária do Grupo de Estudo, Pesquisa e Ensino na Assessoria em Serviço Social-Gepeass.

 

BIBLIOGRAFIA

BODERNAVE, Juan E. Díaz. O que é participação. 6ª Ed. São Paulo, Brasiliense, 1993.

FAUNDEZ, Antonio. O poder da participação. São Paulo, Cortez 1993.

FALEIROS, Vicente de Paula. Estratégia em Serviço Social. São Paulo: Cortez 1999

IAMAMOTO, Marilda V-O Serviço Social Na Contemporaneidade: Trabalho e Formação Profissional-Cortez, S.P, 1998.

LAUSCHEMER, Roque. O Pensamento Cooperativo. In.May, Nelson Luiz (coordenador). Compendio de Cooperativismo UNIMED. Porto Alegre: WS, 1998.

________Material Interno do Programa Centro de Práticas Sociais. 2003. Frederico Westphalen.

SANTOS, Glória Lúcia Silva Abuduch. OTA, Sueli Naomi. Mobilização Social em Comunidades. Unilivre, Curitiba. 2002.

SHENEIDER, Jose Odelso. Democracia, participação e autonomia. São Leopoldo: UNISINOS, 1999.

__________ Dossiê da Extensão da  Universidade Integrada do Alto Uruguai e das Missões. Frederico Westphalen, 2005.

Vivências, Erexim. v.1, Ano1, nº 2, p. 55-63. Maio, 2006; ISSN: 1809-1636